PREFÁCIO

HERNÂNI DONATO

Dezembro / 2011

Membro da Academia Paulista de Letras
Ex-Presidente do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo


TEMPO DE DANTES, GENTE DE HOJE, CRONISTA DE SEMPRE

Como?! Prefaciar o texto do Sebastião Almeida Pinto?! Quem há de?! Ele não cabe em nenhum prefácio pois um prefácio que o contenha resultará mais volumoso do que o contexto tempo e gente. É que Doutor Tião é onipresente na crônica da Cidade. É gente de ontem e de sempre. Ainda agora, datilografando (sou do tempo de dantes) este texto, posso ouvir aquela risada gargalhante que tantas vezes soou como clarim convocando o povo serrano para uma tarefa de alcance cívico. Este livro bem que poderia encerrar-se com um relato das campanhas e dos feitos que ele convocou e conduziu a bom termo.
Multioperante, aliciante, somente não soube e não quis ter inimigos. Ou, simplesmente, indiferentes. Cinquenta dos seus setenta anos foram postos ao serviço da Santa Casa. Doentes pediam o doutor Tião. À perícia profissional aliava a receita mágica do transmitir confiança. Mais do que isso, compartilhamento. Muitos anos, também, no ensino, parecia aos alunos – na voz, no jeito, no todo – ser um deles. Na política, na vereança, conseguiu o prodígio de ser partidário e candidato sem inamistar-se. De todo esse exigente quefazer, hauriu, entesourou, usou, valorizou a sua terra, a sua gente, o seu tempo. Uma recolha imensa: farmacêutico, médico, professor, diretor de escola, cofundador e animador da Academia de Letras, do Taenca, do Tênis Clube, do Aero Clube, do Centro Cultural, et cetera. Os veteranos locais atuantes na frente sul da guerra constitucionalista de “32” narravam o quanto de estímulo moral lhes dava o médico dedicado igualmente aos tratos cirúrgicos. Sendo que desses cuidados resultou um livro primoroso sobre os istos e os aquilos de uma frente de guerra.
Atuou em muitos campos. Reuniu-os com dedicação à crônica. Todos e tudo, inspiração, registro, doação à sociedade em forma de textos. Amor à sua terra, respeito para com o tempo, carinho para com o povo. Creio não ter havido dia,nem roda de prosa,nem cumprimento festivo que não tenha resultado em anotação. Neste volume, bem lido e bem ouvido, temos a voz da rua, a intimidade do lar, o ontem da coletividade.
Daí esse legado valioso de “No Velho Botucatu 1956”, no idem editado em 1994, de “Botucatuenses no Setor Sul”, de “Historias da Santa Casa”. E este apanhado de crônicas resultando em guardado que, ademais de adjetivos lítero-histórico eu diria ser – dizendo no estilo do doutor Tião – gostosíssimo.
Ousado, dinâmico, prestativo atuou onde foi preciso um dínamo que movesse a inerme sociedade. Dele, a campanha pelo busto do Duque de Caxias; dele, a animação de clubes populares – de negros e gente de arrabalde. Dele, lembranças carinhosas de tertúlias na redação da “Folha de Botucatu”, com a audiência de Pedro Chiaradia, de Antônio Tilio, do Pedretti Neto, do Francisco Marins, de tantos outros.
Deixe que lhes dê um flash do dinamismo do bom Tião Pinto. O Aero Clube ameaçava não ter sua terceira turma por falta de quem falasse aos alunos de ventos e nuvens. Ele presidia. Na “Folha”, entrando, viu-me bater à máquina. Com o sorriso largo e quente capaz de vencer qualquer negativa, tocou-me o ombro: - Você acaba de ganhar uma bolsa para o curso de piloto. O custo? Falar aos outros de nimbos, cúmulos, estratos. – Não sei nada de nuvens!, berrei. Reforçando a gargalhada, sentenciou: - Suba lá e se intimize com elas!
Ah!, esse Sebastião! Só não nos faz falta porque não se foi de todo. Para Botucatu será sempre o Tião Pinto e o Tião Pinto será sempre gente presente no hoje de Botucatu. Amém!


BIOGRAFIA

Dr. SEBASTIÃO ALMEIDA PINTO
(* 1902  + 1979) - Dicionário dos Escritores Botucatuenses, autor Olavo Pinheiro Godoy, 1999, Gráfica e Editora Tipomic, 252 p., com biografia às págs. 175 e 176.

Nasceu em Botucatu a 25 de setembro de 1902. Filho de Sebastião Pinto Conceição e Amélia Paes de Almeida Conceição, de tradicionais famílias Botucatuenses, pioneiras de Botucatu. Formado Professor pela Escola Normal Oficial de Botucatu, ali exerceu os cargos de Professor de Biologia, secretário e diretor desse estabelecimento. Formou-se em Farmácia pela Escola de Farmácia e Odontologia de Pindamonhangaba, em 1919. Bacharelou-se em Medicina pela Faculdade Fluminense de Medicina (1934). Dedicou quase cinqüenta anos de seu profícuo trabalho à Santa Casa de Misericórdia Botucatuense, onde foi, durante muito tempo, o responsaável pela enfermaria de homens daquele nosocômio. Jornalista, um dos primeiros membros da Academia Paulista de Imprensa, publicou trabalhos durante toda a sua existência, em vários jornais desta cidade, no “Pulso”(Órgão Noticioso da APM) e jornais da região. Através desses relatos, pode-se conhecer praticamente toda a história de Botucatu e de suas famílias. Historiador, publicou dois livros significativos no estudo da formação dos botucatuenses. “No Velho Botucatu” e  “Botucatu no Setor Sul”, onde relata os episódios da Revolução de 1932, da qual participou na qualidade de Tenente Médico do Batalhão Universitário “Fernão Salles”. Por seus méritos como Historiador e Folclorista, foi condecorado com as comendas: Vital Brazil, do Governo do Estado de São Paulo,  Brigadeiro Couto de Magalhães da Sociedade Geográfica Brasileira e Veteranos da Revolução de 1932, da Sociedade MMDC. Membro-Fundador da Academia Botucatuense de Letras, cuja cadeira tem por patrono Alceu Maynard de Araújo, que foi seu aluno e grande amigo. Professor Emérito do Instituto de Educação “Dr. Cardoso de Almeida” e “Instituto Santa Marcelina”. Fundador do Aero Clube de Botucatu, que lhe prestou significativas homenagens durante seus funerais, com aviões sobrevoando o séquito. Um dos fundadores do Centro Cultural de Botucatu em 1942. Vereador por muitos anos à Câmara Municipal de Botucatu, onde exerceu sua presidência. Presidente de honra do Teatro Amador da Escola Normal de Botucatu - TAENCA -   e um dos homens que erigiram o prédio próprio da instituição. Sócio-Fundador do Botucatu Tenis Clube, onde exerceu, durante nuito tempo, as funções de médico. Historiador.

BIBLIOGRAFIA: “No Velho Botucatu”, 1956 (edição comemorativa do primeiro centenário da emancipação político-administrativa da terra dos bons ares - 1855/1955) 185 p.; “No Velho Botucatu 2  edição, Editora PAULICÉIA, 1994, 203 p.; “Botucatuenses no setor Sul”, “Impressões de Viagem”, “A Tuberculose nos Meios Escolares”, “Escolas Especializadas para Crianças Hospitalizadas” (monografia), “Tempo de Dante - Gente de Hoje” (série de 100 artigos publicados no “Correio de Botucatu); “Histórias da Santa Casa”. Colaborou na revista “A Cruzada” (1928). Centenas de artigos, versando sobre história de Botucatu, publicados nos jornais: “Correio de Botucatu”, “Folha de Botucatu”, “Jornal de Botucatu”, “Botucatu-Jornal”, “Gazeta de Botucatu”, etc...

Complementando a biografia citada PELOS REVISORES, o Dr. Sebastião Almeida Pinto foi casado com a Professora Maria Leony Nogueira Pinto (Dona Laly), que tiveram os seguintes 7 filhos:

1- Dra. Ana Maria Nogueira Pinto Quintanilha, Médica Veterinária, casada com José Paulo Quintanilha, Engenheiro Agrônomo, que tiveram o filho José Paulo Quintanilha Junior, Administrador de Empresas.

2- Maria Amélia Nogueira Esteves Pinto, Professora, casada com o  Dr. Osiris Esteves Pinto, Médico, que tiveram os filhos Izabela, Médica, Rodrigo, Engenheiro e Fernando, Pianista.

 3- Dr. Sebastião de Almeida Pinto Filho (Tiãozinho), Médico, casado em primeiras núpcias com Dra. Sônia Raquel Galvão do Amaral Campos, Médica Oftalmologista, que tiveram os filhos Débora, Advogada e Beatriz, Formada em Artes Cênicas. Em segundas núpcias casou-se com Sandra Coraini Sanches de Almeida Pinto, que tiveram os filhos Clara e Gustavo, Estudantes.

 4- Alcides Nogueira Pinto, Advogado, Escritor, Novelista,  Teatrólogo, Cronista.

 5- José Roberto Nogueira Pinto (Zébão), Engenheiro Agrônomo, casado com Dra.Regina Aparecida Tortorella Pinto, Médica, que tiveram os filhos Maria Emília (Mimi), Renato (Dôdo) e  Luiza.

 6-  Maria Isolina Nogueira Pinto (Shen), Bibliotecária.

 7- José Paes de Almeida Nogueira Pinto, Médico Veterinário e Vice-Diretor da Faculdade de Medicina Veterinária Unesp-Botucatu, casado com Yuriko Yanagizawa de Almeida Nogueira Pinto, Professora Bióloga da Unesp-Botucatu, que tiveram os filhos  Lucas e Bruno, Estudantes.


 
<< voltar