6 - O DE SANCTIS QUE VIROU DOS SANTOS
No meu tempo de menino, fui vizinho de um italiano bem apessoado, já idoso. Dono de longas barbas. Homem delicado, de boas maneiras. Era estimado no Velho Botucatu. Tratava-se de Felipe dos Santos, dono de sítio e de uma fábrica de cerveja. Em verdade, seu nome era Felipe de Sanctis, que ele aportuguesara para Felipe dos Santos. Um irmão de Felipe, pai do professor Baptista e do farmacêutico Honório de Sanctis, conservou o nome na grafia italiana, original, de Sanctis. José Nicoletti, que conhece bem as coisas do passado, me contou que a fábrica de Felipe dos Santos ficava na rua do Riachuelo ( hoje Amando de Barros ), onde foi a sede da A.A.Botucatuense, em frente à Casa Carvalho. Abrasileirando-se de vez, o moço italiano casou-se com Donária, uma botucatuense ( irmã de Donâna Fonseca ), da família Thomaz da Silva. Isso, por volta de 1870. Do casamento de Felipe, resultou grande descendência. Ao que me lembro, foram seus filhos: Orlando, Humberto, Nenê, Alberto, Architiclinio, Rosa, Theresa e o Nhonhô. De alguns desses filhos, tenho algo a dizer: HUMBERTO, tornou-se eclesiástico. Foi seminarista em São Paulo. Ordenou-se em Roma, sendo o primeiro padre botucatuense. Dele tenho lembrança, como Secretário do Bispado de Botucatu, ao tempo do 1º Bispo Dom Lúcio Antunes de Souza, isto em 1911-1912. O bispado de Botucatu era tão grande, que, do seu vasto território, foram desmembradas as dioceses de Lins, Sorocaba, Assis, Marília, Presidente Prudente, Bauru e Itapeva. Essa a razão porque Botucatu é Arcebispado. ARCHITICLINIO fez carreira no ensino Normal do Estado. Foi professor e diretor de várias escolas normais oficiais. No período de 1931-1934, dirigiu a nossa Escola Normal. Transferido para a Capital, exerceu funções de destaque junto ao Governo do Estado. NENÊ DOS SANTOS mudou-se para o Rio Grande do Sul. Enquanto isso, o Albertinho, dando largas ao seu temperamento boêmio, meteu-se em atividades circenses. Era dono e artista de um circo de cavalinhos. Correu o Brasil todo. Seguiu o exemplo do José Floriano ( filho do famoso “Marechal de Ferro”, que foi Presidente do Brasil ), que era lutador profissional e dono de circo. O filho NHONHÔ, teve morte trágica. Foi esmagado por um trem da Sorocabana. Nunca se apurou se foi desastre ou suicídio. DONA ROSA, casou-se com Elóy Tobias de Aguiar, “Professor de Palácio”, como diziam. Por que não era formado. Habilitara-se para o exercício do magistério, em exames realizados na Secretaria de Educação. De ELÓY me recordo como adjunto do grupo escolar “Dom Lúcio”, na Vila dos Lavradores. THEREZINHA casou-se com o jornalista Avelino Carneiro, diretor do “O Botucatuense”. Em 1880, uma das irmãs de Felipe dos Santos, regressou para a Europa, para a terra natal. E levou em sua companhia, um afilhado,um menino esperto chamado Ozório Silva. Após 14 anos de permanência na Itália, Ozório regressou ao Brasil,como ótimo funileiro,ou folheiro. E como só falava o idioma de Dante, era conhecido como o “italiano preto”. Felipe faleceu em avançada idade. E ao que me consta, nenhum dos seus descendentes reside nesta cidade. Um episódio ocorrido com um empregado da cervejaria, pelo seu ineditismo, merece ser aqui narrado. O fato passou-se assim: “O rapaz, entregador de bebidas, bebia muito. Nada havia que curasse sua embriaguês habitual. Um curandeiro, recomendou então uma SIMPATIA. Recomendou que dessem ao pau d’água um estranho remédio, que era porrete para curar alcoolismo. Era o tal de “pão de defunto”. Quando um cidadão estivesse agonizando, na hora de desencarnar, deviam colocar na boca do mesmo, um pedaço de pão. E, exalado o último suspiro, esse pão, deveria ser dado ao viciado. A coisa estrambótica foi feita. O alcoólatra, sem o saber comeu aquele pão. E nada lhe aconteceu de bem e nem de mal. O homem continuou bebendo como antes. Um dia contaram-lhe o que lhe haviam feito. E o cidadão, sem se alterar, respondeu: De agora em diante, vou tomar três porres por dia!” ( Correio de Botucatu – 14/06/1970)
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