9 - O VELHO CARDOSO
Frequentemente recebo a visita de estudantes, que me pedem dados sobre a rua Velho Cardoso. Para atendê-los me socorro do historiador Hernâni Donato. O nosso brilhante conterrâneo, no seu “Achêgas para a História de Botucatu” assim se manifesta: RUA DA PEDREIRA ( Velho Cardoso ). Em certo ponto do seu curso, dentro da cidade, o pacifíssimo Lavapés, traído pelo solo, atira-se sobre uma corredeira, entre barrancos. Durante meio século foi o cenário de suicídios românticos, não registrando a imperfeição de uma só tentativa falha. De fato existia a pedreira, que não se sabe até que ponto teria sido explorada para justificar o nome com que se apresentou durante dilatados anos. Uma versão popular, quer ligar aquele nome ao de uma senhora por nome Pedrina, que mantinha na proximidade do pequeno salto, uma casa de jogos e outras diversões, à qual os freqüentadores se referiam com uma providencial e cautelosa alteração do nome. O certo é que era, também a rua por onde os devotos conduziam procissionalmente, a lavar, a imagem de São João, nas épocas de estiagem. E porque a tal Pedrina, se realmente existiu, já se tivesse mudado ou porque a pedra escasseasse, a rua ficou sendo “Rua de São João”, até 20 de julho de 1918, data em que a Lei N. 270, decidiu que ela passaria a chamar-se “Rua Velho Cardoso”. Concorreu para essa mudança, o fato da casa comercial e residência de Cardoso, ficar na esquina da rua do Riachuelo ( hoje Amando de Barros ), com a mencionada rua São João. Quem era o Velho Cardoso? Antonio Joaquim Cardoso de Almeida, nasceu em Portugal. Dizem que era pedreiro em sua terra natal. Muito moço imigrou para o Brasil. Veio para Botucatu, que era então “Boca de Sertão”. Zona de intenso progresso, com o plantio de lavouras de café. O moço Cardoso veio trabalhar como caixeiro do seu compatriota Cunha Mello, que era dono de uma grande loja. Com o tempo, o jovem imigrante tornou-se sócio e depois dono daquela que seria a CASA CARDOSO, de grande tradição. Antonio Joaquim Cardoso de Almeida chegou a Botucatu por volta de 1860. Meu avô materno, o capitão José Paes de Almeida, que chegou aqui em 1868, contava que o menino Juca Cardoso já era nascido naquela época. Com o falecimento do patrão Cunha Mello, Antonio Cardoso casou-se com a sua viúva, dona Maria ou Mariazinha, como diziam. Desse casamento nasceram os filhos José, Antonio, Custódio e Armindo. Além de negociante, Cardoso era fazendeiro. Dono de grande fortuna. Homem importante na cidade. Era um dos beneméritos da Misericórdia Botucatuense ( seu retrato está lá na galeria de benfeitores ) e da Caridade Portuguesa Maria Pia. Colaborava em todos os movimentos sociais da cidade que crescia continuamente. Em política sua atuação era discreta. Pertencia ao PRP. Em 1890, com a extinção das Câmaras Municipais, pelo governo republicano, integrou o primeiro Conselho de Intendentes Municipais, órgão constituido para substituir as extintas edilidades. Seus filhos, tomaram parte ativa nos movimentos políticos locais. Antonio Joaquim Cardoso de Almeida, o Velho Cardoso, faleceu nesta cidade. Nenhum dos seus descendentes reside em Botucatu. E os seus filhos? O Juca, o Dr. José Cardoso de Almeida, foi o mais ilustre botucatuense de todos os tempos. Advogado, financista, Deputado Estadual, Secretário de Estado, Deputado Federal ( foi líder da maioria ), Presidente do Banco do Brasil, Chefe de Polícia de São Paulo, Ministro da Fazenda, tornou-se nome de projeção nacional. Prestou relevantes serviços a Botucatu. Seu nome figura numa das ruas da cidade. É o patrono do Grupo Escolar Dr. Cardoso de Almeida e do Instituto de Educação. O majestoso Fórum local, foi construído por sua iniciativa. E dizem que fez isso, sem consultar seus superiores no governo do Estado. Antonio ( Nenê Cardoso ) , o único que assinava Cardoso do Amaral, foi Vereador e Prefeito Municipal, Deputado Estadual em várias legislaturas. Era no PRP, o Chefe da facção cardosista. Tem seu nome numa rua da cidade. Custódio ( o Custódinho ) quase septuagenário, bacharelou-se em Direito, pela Escola do Largo de São Francisco, em São Paulo. Armindo ( o Cazuza ), foi casado com d. Euthymia Monteiro, irmã da escritora senhora Leandro Dupré. Dona Euthymia, em 1919, foi madrinha do Tiro de Guerra 523. Foi ela que entregou a Bandeira Nacional, ofertada por seu esposo, e que agora é conduzida pelos convocados do T.G. 123, que substitui o extinto T.G. 523. ( Correio de Botucatu – 25/06/1970)
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