30 - DOMINGOS SOARES DE BARROS

 

           A placa “Domingos Soares de Barros”, naquela rua paralela à rua Dr. Costa Leite, na parte alta da cidade, é uma homenagem a um grande vulto do Velho Botucatu. Cidadão que se destacou como homem público e na sua vida particular. Era sobrinho de Domingão.

             Conversando, há dias, com o Sr. Turíbio Vaz de Almeida ( talvez o mais antigo morador de Botucatu ), contou-me ele coisas interessantes sobre Domingos Soares de Barros, que conheceu pessoalmente. É um desconhecido da atual geração, mas que foi, sem favor nenhum, grande benemérito de nossa terra. Seu nome, apesar de figurar numa rua da cidade, não tem tido o realce que merece pelo acervo de serviços prestados à comunidade botucatuense.

             Domingos Soares de Barros não era botucatuense nato, mas o era de coração. Quando aqui chegou, em 1860, mais ou menos, vinha de São Manuel, onde fora grande fazendeiro, juntamente com seus irmãos. Veio com fama de “Podre de Rico”. Tinha vendido o latifúndio que era a FAZENDA SOBRADO. Sua residência era num prédio que foi demolido, onde se ergue o sobrado da família Peduti, em frente ao BOSQUE. Solteirão, celibatário empedernido, trouxe para serví-lo um casal de escravos – Caetano e Marina –fidelíssimos. Gostava de passear a cavalo, possuindo ótimos animais.

            Protestante, crente de fato, tudo fazia para difundir sua religião. Tornou-se um dos esteios da Igreja Presbiteriana, fundada em 01/08/1885, e da qual foi fundador e primeiro pastor, o Reverendo João Ribeiro Braga, que, também foi, o primeiro Intendente ou Prefeito Municipal de Botucatu – República. Para a formação do patrimônio da Igreja recém-fundada, doou parte dos seus bens. À Misericórdia Botucatuense, destinou alguns prédios, localizados nas ruas centrais. Esses prédios foram vendidos e o dinheiro apurado foi empregado nas obras do Hospital.

             Domingos Soares de Barros era político. Em 1864/1865 foi Vereador à Câmara Municipal. Republicano histórico, desde sua mocidade; tomou parte na grande CONVENÇÂO DE ITU, em 18/04/1873, batalhando pela implantação do regime republicano no Brasil. Domingos Soares de Barros, José Rodrigues César e Bernardo Augusto Rodrigues da Silva ( bisavô do Dr. Rivaldo Assis Cintra ), compunham a representação botucatuense ao conclave.

            Domingos Soares de Barros, sem ter tido grande instrução, era um homem inteligente e de visão. Espírito arrojado e progressista. Com idéias avançadas para a época. Preocupado coma melhoria das condições dos seus semelhantes, não se limitava a atos de filantropia e religião. Ia mais longe.

            Observando a deficiência educacional da cidade, com carência absoluta de ensino médio e superior, o que ocasionava o êxodo da mocidade para a Capital, Campinas, Itu e outras cidades adiantadas, tomou uma resolução arrojada: - Instalar aqui um colégio, com métodos modernos, possibilitando o preparo de ricos e pobres, para ingresso nas escolas superiores, o que só era possível, então, aos filhinhos de papai.

            Bem assessorado, Domingos Soares de Barros trouxe para Botucatu um notável professor alemão, Constantino Carlos Knuppel, que imigrado ( não conheço as razões ), vivia no sul do Brasil. O Prof Knuppel, na Alemanha, tinha sido mestre de Bismark, o famoso chanceler do REICH. Apesar da distância e dos acontecimentos, conservou-se inalterada a amizade entre o professor e o discípulo célebre. Consta que na velhice, doente e empobrecido, Knuppel recebia uma pensão do governo alemão. Knuppel, falecido, repousa no cemitério botucatuense.

              O Colégio começou a funcionar em fevereiro de 1881, instalado em prédio de Domingos Soares. Mas houve um desentendimento entre Domingos e o Professor. Este era materialista e aquele era mui religioso, crente mesmo. Barros exigiu que Knuppel se filiasse aos presbiterianos. O alemão resistiu e o protestante não teve duvidas e nem meias- medidas:- despejou professor e escola de seu prédio, arranjou-se como pode (conta Hernâni Donato ) e com professores leigos, intransigente em matéria de religião e ensino, tocou o colégio para frente.

            Em 1869, Domingos Soares de Barros, doou terras para aumentar o patrimônio da Vila de Sant’Anna. Ao falecer, em 22/12/1890, foi sepultado no cemitério local. Seu túmulo simples, foi levantado pelos amigos e consta de um tronco de árvore ( em pedra ), decepado ao meio e com a seguinte inscrição: -  “Gratidão da Igreja Presbiteriana de Botucatu. De hoje em diante, diz Espírito, que descansem dos seus trabalhos, porque as obras deles os seguem. Apoc. XIV- 13”.

             Domingos Soares de Barros, tinha um sobrinho chamado Domingos de Barros, apelidado Domingos Mole. A semelhança de nomes, por vezes ocasionava confusão. Contam um episódio cômico ocorrido com o Domingos  Mole:-“O homem não tinha barba e nem bigodes, glabro que era. E isso o incomodava e aborrecia. Certo dia, com uma dor de dentes furiosa, o rosto inchado, estava o homem à janela de sua casa, na rua Curuzu. Com a cabeça envolta por um chalé, parecia uma velha à janela. Um homem da roça aproximou-se e olhando-o, perguntou : - Onde é que mora Domingos Mole? O nosso homem se enfureceu e respondeu :- “ Olhe seu malcriado, Domingos Mole é a avó. Tenha respeito! Então o caboclo retrucou: - Dona, não precisa ficar braba. A senhora me desculpe, eu não sabia que era mãe dele.

             Domingos Mole,  subiu a serra e berrou:- “ Senhora é a . . . ( e soltou o maior palavrão da língua portuguesa ). Eu sou homem! Macho toda a vida! Se quiser experimentar desça e venha aqui!!!

( Correio de Botucatu– 17/09/1970 )


 
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