36 - UM  MAJOR  DE  “ E O VENTO LEVOU “

 

           Enquanto a abolição da escravatura, no Brasil, se fez pacificamente, em 1888 nos Estados Unidos da América do Norte a coisa foi sangrenta. Foi feita a ferro e fogo. O Norte dos States era abolicionista e o Sul era escravocrata. Houve então a Guerra da Secessão, que ensangüentou aquele país durante cinco anos ( 1860/1865 ).

            A tremenda guerra teve inicio com o assassinato do Presidente A. Lincoln, por um fanático. Na luta entre nortistas ( iankees ) e sulistas ( confederados ) morreu gente a valer. E ao final, quando o General Robert Eduard Lee, Comandante dos Exércitos do Sul, pediu a paz, um ódio mortal ficou entre os combatentes da guerra civil. Muitas famílias sulistas, não se conformando com a situação, imigraram para o Brasil.

           No Estado de São Paulo, os maiores números de imigrados se localizaram em Vila Americana e Santa Bárbara do Oeste. Em Botucatu, também se localizaram algumas famílias dos Confederados. Gente do Alabama e da Geórgia. Os Jones, Norris, Muller, Burton, Meriwether e outros, aqui fizeram parada. Em 1890, os americanos já andavam nestas paragens.

           O Major Meriwether, que foi personagem real do filme “ E O Vento Levou”, foi fazendeiro em Botucatu. Aqui residiu durante muitos anos. Tomava parte ativa na vida política e social da cidadezinha. Ele residia na rua atualmente denominada Velho Cardoso, onde se situa a residência do Sr. Jayme Villas Bôas. O Major foi dono de uma serraria na beira do rio Capivara, lá p’ras bandas da fazenda Indiana.

            O Major Meriwether faleceu na Capital do Estado. Deixou os seguintes filhos: Daniel, Roberto, José e Guilherme. Este,  foi Juiz de Paz e Delegado de Polícia, mesmo não sendo brasileiro.

           O jovem Daniel Meriwether, casou-se em Botucatu, com uma professora da Escola Americana, recém fundada. Era ela dona Luiza, uma portuguesa muito bonita, que na Escola era a única mestra que falava o nosso idioma. Desse casamento, resultaram vários filhos. No cemitério local, logo à entrada, há um túmulo rústico ( um monte de pedras, sobre o qual há um livro com a seguinte inscrição : To the memory of LEE ROBERT MILTON, beloved son of Daniel M.& Louise B. Meriwether. Born 19 th junho 1895 – Died 14 the november 1895 – Deixai vir  a mim os pequeninos. Marcos, 10-14”) A tradução desse inglês é a seguinte: “ Em memória  de Lee Milton, amado filho de Daniel M. e Louise B. Meriwether, nascido em 19 de junho de 1895 e falecido em 14 de novembro de 1895.” Como se vê, o anjinho recebera o nome Lee,em homenagem ao infortunado comandante das tropas do Sul.

           Pela leitura do trecho acima, conclui-se que o Major e família eram protestantes. Meu tio João Bethém Moreira ( Nenê Moreira ), que foi Escrivão e Tabelião durante vários decênios,contava que o Major trabalhava como Agrimensor ( medindo terras nas fazendas que se abriam ). E, com a sua defectível Bíblia, dirigia cultos evangélicos da família e patrícios. O nosso Turíbio Vaz de Almeida, contemporâneo dos fatos, diz que em 1893 já andava por aqui o Missionário LANDES ( Presbiteriano ) e que ele Turíbio, frequentava suas aulas dominicais.

           Desse tempo, 1893, foi  a criação da Escola Americana, onde apareciam as misses Nanie, Dascombes, Louise e mais tarde, a famosa Miss Brow. Esta, alcançou tamanha projeção no ensino público paulista, que seu nome é patrono de tradicional estabelecimento de ensino da Capital, o Grupo Escolar “Miss Brow”.

             Com a retirada das educadoras norte-americanas, assumiu a direção da Escola a Professora dona Alexandrina Braga, esposa do Reverendo Carvalho Braga, pai dos renomados educadores Erasmo Braga e irmãos. Posteriormente, o estabelecimento tomou o nome de Escola Botucatuense, que eu alcancei quando era dirigida pelo reverendo Coriolano de Assumpção.

           A presença dos norte-americanos em Botucatu, contribuiu bastante para modificar a fisionomia da cidade. Na religião, no ensino, na produção, essa influência se notava, e, também, nos esportes, como contarei no próximo capítulo.

( Correio de Botucatu – 24/10/1970 )


 
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