40 - MANEQUINHO  MESTRE

 

           Manoel Theodoro de Aguiar, o Manéquinho Mestre, foi figura de destaque no Velho Botucatu. Fazendo indagações sobre sua pessoa, ouvi coisas assim:

-        Foi um bom botucatuense, como qualquer outro dos tidos como tal.

 -      Era um cidadão notável pelos serviços que prestou , como educador e como funcionário de Justiça.

-         Constituiu-se num líder católico.

-         Foi o maior carola do mundo!

          Mas, afinal, quem era o homem?

          Manoel Theodoro de Aguiar, nasceu em Botucatu, aos 24 de outubro de 1847. E aqui faleceu aos 71 anos de idade, no dia 16 de janeiro de 1919. Foi casado em primeiras núpcias com Francisca (Tatata) do Amaral. Pelo falecimento desta, em segundas núpcias, consorciou-se com Antoninha, sua cunhada. Desses casamentos não houve filhos.

          As esposas de Manoel Theodoro de Aguiar, eram irmãs de Francisco Egidio do Amaral, o Barão do Amaral, mais conhecido como Chico Picão. Esse título nobiliárquico não era da nobreza imperial. Chico Picão era do baronato papalino, título concedido pelo Vaticano. Diziam as más línguas, que o titulo custara duas mil arrobas de café. E o apelido Picão? Viera da amizade que o Barão tinha pelo Chico Pelêgo, em verdade Francisco Barbosa da Cunha e Mello, com o qual andava sempre junto.

           Manoel Theodoro de Aguiar tinha dois irmãos. Um era Tobias de Aguiar, pai do Prof. Elói Tobias de Aguiar, que foi genro de Felipe dos Santos. O outro era Antonio de Aguiar, apelidado o “Sabugueiro”. É bom não confundir com um outro Sabugueiro – Antoninho – filho de Antonio Ignácio de Oliveira, que apareceu mais tarde, e foi sogro do Prof. Áureo Fernandes Leite.

           Em 1878, Manoel Theodoro de Aguiar, já era professor de uma das cinco escolas existentes em Botucatu. As outras escolas eram regidas por dona Chiquinha Cananéia ( a primeira professora a lecionar na terra ), pelo professor Atanázio Ouriques de Carvalho e pelo casal Mariquinha Leme-Salvador Benedito Galvão. Desse tempo e função, é que veio a alcunha de Manéquinho Mestre, pelo qual era conhecido.

            Com o cargo de professor, Manéquinho acumulava as funções de “aferidor de pesos e medidas do Município”, cargo que exerceu até 1890. Nessa data, Manequinho Mestre demitiu-se do cargo de professor e deixou de ser o aferidor de pesos e medidas. Fora nomeado Contador, Partidor e Distribuidor, do Foro local, cargo que exerceu até sua morte. O cartório funcionava em sua residência, à rua Cesário Alvim, em frente à Farmácia Glória. Quando Manéquinho faleceu, foi substituído ( 1919 ), pelo Sr. Guilherme Machado, que era seu auxiliar juramentado. Guilherme Machado, reside ainda em Botucatu. Após quarenta anos, de efetivo exercício, mais ou menos, aposentou-se. E foi titular do cargo.

           Manéquinho, além de personalidade, tinha cultura geral. Muito bem apessoado,  dono de uma barba bem cuidada, trajava-se corretamente. Estava em tudo na vida local. Tomava parte em todas as iniciativas pró-Botucatu. Era o secretário perpétuo de reuniões e assembléias, políticas ou não, que se realizavam nos movimentos coletivos da terra.

             Mas era na Igreja que Manoel Theodoro de Aguiar atuava decididamente. Católico praticante. Presidente da Irmandade do Santíssimo.  Fabriqueiro da Matriz ( encarregado da Fábrica, isto é, de administrar os rendimentos da paróquia ). Tornou-se um líder de sua confissão religiosa. É por isso, que os boquirrotos o taxavam de o maior carola do mundo.

               Mas o homem era admirado mesmo, quando dirigia a orquestra e o coro da Matriz. Além de regente, era o organista. Os outros músicos foram: Veiga Russo ( forte negociante ), no oficleide ; Bonifácio Rocha, violino; Salvador Benedito da Silva, ( o Salvador Seleiro ), no trombone. Como cantoras, apareciam Malvina Conceição (Dona), que se casou com Napoleão de Barros; Ana Rita e Antoninha, cunhadas de Manéquinho Mestre; e Sinhá, irmã de Agenor Nogueira. O coral botucatuense fazia sucesso.

             Diziam os adversários de Manéquinho Mestre, que não podiam compreender, como ele, religioso e piedoso ao máximo, usasse e abusasse da palmatória em sua escola. Suas palmas toadas eram temidas. Mas esses faladores se esqueciam de que na época, a famigerada “Santa Luzia de cinco olhos”, fazia parte do equipamento pedagógico das escolas. . . E ainda  diziam, que antigamente a escola era risonha e franca. . .

            Há meio século, que Manéquinho Mestre partiu. Mas não foi esquecido. Muita gente se lembra dele, sempre alinhado, sempre religioso, servindo sua terra e sua gente. E, principalmente, praticando sua religião. Sem respeito humano.

( Correio de Botucatu – 29/11/1970 )


 
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