43 - CAPITÃO  JOSÉ  PAES  DE  ALMEIDA

 

             A rua que do ribeirão Lavapés ( em continuação à Siqueira Campos )vai até o fim do Bairro Alto, chama-se Capitão José Paes de Almeida. É homenagem a um dos pioneiros de Botucatu. Foi cidadão que relevantes serviços prestou ao município. Deixou enorme descendência – filhos, netos, bisnetos, trinetos  e tetranetos – que continua servindo e povoando a “Princesa da Serra”.

             O Capitão José Paes de Almeida ( da Guarda Nacional ), meu avô materno, era filho de Antonio Paes de Almeida Pompeu. Nasceu em Tatuí, aos 27 de julho de 1850. Muito moço, casou-se com sua prima Ana da Silva Telles, transferindo-se logo para Botucatu ( 1868 ), onde nasceram todos os filhos.

           A cidadezinha, poeirenta, bulhenta e mal afamada, não passava de um pequeno burgo. Seuprimeiro serviço foi socar taipa, para construir casas e muros da cidade que o Alferes Franco, urbanista de corda e vara, começava a arruar. Ganhava então, quinhentos réis por dia.

            Aos poucos, à medida que a cidade ia crescendo, José Paes ia prosperando. Foi feliz. Enriqueceu. E quando faleceu, aos 87 anos de idade, à filharada legou apreciável fortuna. Na época, foi o maior inventário da terra. Mas os herdeiros eram tantos, que a fortuna se diluiu e a turma teve de continuar no dureiro. . .

            José Paes em sua mocidade foi tudo. Até Estafeta Postal. Era ele que conduzia as malas do correio, para Tatuí, ponto de estrada de ferro mais próximo. Com os dois cargueiros, fazia a viagem, ida e volta, em três dias. Como devia realizar dez viagens mensais, durante dezoito meses, não dormiu em casa, a não ser nos meses de trinta e um dias, quando então tinha um dia de folga. Estafetado, como diria Monteiro Lobato, não aguentou. Entrou no negócio de porcos, na compra, venda e abate. Ganhando crédito, virou boiadeiro. Com o tempo, tornou-se um dos maiores negociantes de gado. Praticamente, foi o iniciador do comércio de bovinos com Mato Grosso . E isto, quando a ponta dos trilhos da Sorocabana parava em Indiana. E os bois, aos milhares, começaram a povoar as invernadas da zona que tem Botucatu por centro. Agenor Nogueira, Agenor Teixeira e João Batista Martins, genros do Capitão Zé Paes, foram os continuadores da iniciativa. Hoje, os Winkler, Lourencinho Ferrari, Joaquim André e outros, estão no negócio.

            Quando moço, tido e havido como homem de confiança e corajoso, José Paes, executava perigosa missão. Como não havia bancos na cidade e na zona, o dinheiro para pagamento das grandes casas atacadistas, era levado à Sorocaba, onde Araújo Costa e Cia, Soto Mayor, Martins Costa e outras poderosas firmas tinham seus escritórios. José Pais era o próprio encarregado de tal trabalho. Sempre correto, nunca teve um senão em sua missão. E isto, em matéria de crédito, lhe foi de grande valia, no futuro.

            Na maturidade, o Capitão José Paes de Almeida, entrou na política. Foi um dos fundadores do Partido Republicano Paulista, de Botucatu. Fez parte do Diretório local do velho Jequitibá, partido que era uma forja de estadistas e celeiro de homens públicos. Homem enérgico, decidido, foi Delegado de Polícia por muitos anos, até que fosse estabelecida a polícia de carreira. Foi, também, Juiz de Paz, durante vários triênios, por eleição. Como Juiz de Paz, além de presidir casamentos ( única função na atualidade ),julgava processos até uma determinada alçada, exercendo,ainda uma espécie de justiça local. Contava José Paes, que tivera apenas vinte e poucos dias de escola! Por isso eram seus familiares ( genros tabeliães e escrivães ) que punham suas sentenças em estilo e ortografia convenientes . . .

            Chefe de incontável prestígio na massa popular,  pesava na política local. Em todas as legislaturas, tinha na Câmara Municipal, um representante da família. Houve tempo, em que três Paes de Almeida foram Vereadores da mesma edilidade, no mesmo ano. . .

           Como político, meu avô tinha adversários. Que se transformaram em inimigos. E não podendo atingí-lo, porque o caboclo velho era invulnerável, inatacável, voltavam-se contra seus familiares. Meu pai Sebastião Pinto Conceição, foi uma das vítimas de alguns régulos do perrepismo local. Infelizmente, muitos reacionários e truculentos políticos da época, concorreram para solapar o velho PRP, criando com seus desmandos, ambiente favorável à Revolução de 1930. As coisas chegaram a tal ponto, que o 24 de outubro de 1930 ressoou como clarinada de alvorada, toque de liberdade. Infelizmente a resolução foi desvirtuada e surgiu 1932, como legítima reação dos Paulistas.

          Em outubro de 1932,o Capitão José Paes de Almeida deixou de vez a política. Para assistir aos funerais da Democracia, pisoteada pela ditadura getulista. Em 1º de fevereiro de 1937, serenamente,entregou sua alma ao Criador, aquele que foi um continuador dos seus avoengo, num moderno bandeirantismo paulista. Foi um campeão de tempos duros, mas felizes. Da sua gente falarei no próximo capítulo.

( Correio de Botucatu – 19/12/1970 )


 
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