49 - MAJOR JOAQUIM MARIA, O LATIFUNDIÁRIO

 

          No fim do século passado, viveu em Botucatu, um autêntico latifundiário, o Major Joaquim Maria Barreiros. Era ele de Itapetininga. Descendia de velho tronco português, radicado de há muito na Província de São Paulo. Quando a onda verde dos cafezais, espraiou-se pela atual zona Sorocabana, o major Joaquim Maria Barreiros se transferiu de Itapetininga para Botucatu.

           Suas fazendas cobriam léguas e mais léguas de chão paulista. Em Botucatu era dono das fazendas Estiva ( hoje Oito Pontas ), Janeiro e Paraíso ( no Pardinho ) e, também, da Fazenda Morro Azul, todas na região serrana. Era dono ainda, de uma campanha sem fim, que ia até perto de Itapetininga. Autêntico latifundiário, pois. A Fazenda Morro Azul, foi a causa da morte de Luiz Augusto Tavares, que, na época, era Tabelião e Escrivão em Botucatu. E a Barreirada morreu pobre.

          A coisa se passou assim: O Major Joaquim Maria, brabo, era um homem inválido. Doente, encarangado, semi-paralítico. Não podia se locomover. Quem cuidava dos seus negócios, era seu compadre e amigo, o escrivão Luiz Tavares. Os negócios corriam mal. O Major ia se empobrecendo. E começou a cismar, que, estava sendo traído e roubado pelo amigo e procurador, versão que era posta em dúvida por muitos contemporâneos. Certo dia, o Major e Luiz Tavares, foram a Itapetininga, para vender a Fazenda Morro Azul. A viagem, de trem, levavao dia todo. E quando o comboio ia se aproximando de Itapetininga, o Major, a tiros, matou Luiz Tavares. Foi um reboliço geral, parecendo até, uma cena de farweste, de filmes americanos. Quando o Chefe do Trem chegou, averiguou o ocorrido:- O que foi que aconteceu? – Matei um ladrão, um traidor, respondeu o Major. O Chefe então disse:- O senhor está preso. Aí o Major retrucou:- “Eu sou um homem preso pela natureza”.

          O Major Joaquim Maria, foi julgado em Itapetininga, sua terra, onde era pessoa influente. Foi absolvido. Mas morreu logo, lá na “Atenas do Sul”. Deixou numerosa família, empobrecida, que se espalhou pelo Estado de São Paulo. Em Botucatu, alguns netos e bisnetos, em pequeno número, aqui residem. Tenho lembrança dos filhos, já falecidos : Euzébio, Lauro, João, José, Alfredo, Jonas, Amador, Nhá Lica, Sinhára, Idalina, Amália, e uma filha que se casou com o português  Alberto Ramalho, que foi morar em Portugal, e lá faleceram.

         Euzébio Barreiros casou-se com Virgília, filha do Capitão José Paes de Almeida. Deixaram os filhos: José e Arnaldo, solteiros, e Joaquim todos falecidos; Antonio ( Totó ), residente em São Paulo; Benedita,viúva de Paulo Liberato de Macedo, residente em Botucatu; Alzira, casada com Carlos Passoni, residentes em Florianópolis, Santa Catarina. Joaquim Barreiros deixou filhos e netos.

        Lauro Barreiros, o nhonhô Lauro, era um músico notável. Regente de orquestra. Por motivos familiares, mudou-se para Piraju, onde faleceu. Lá, se tornou amigo do Deputado Ataliba Leonel, o famoso General Perrepista. Um filho de nhonhô Lauro, o Quinzinho Barreiros, tornou-se político de prestígio, e parece-me, que até foi Prefeito de Piraju.

       João, o Zico Barreiros, era fazendeiro no Pardinho. Por questões de terras, foi assassinado por um vizinho. Manuelito, filho de Zico, vingou a morte do pai, matando ( poucas horas após o crime ), o seu assassino. Manuelito Barreiros era brigador, corajoso. Mudou-se para o Paraná. Por questões de terras, envolveu-se num conflito, onde matou e morreu. Era Barreiros no duro.

       De Alfredo e Jonas, só sei que eram lavradores. E, como tal, viviam de teimosos, em dificuldades, apesar de lutadores.

       José Barreiros, outro filho, durante muitos anos, residiu em Pederneiras. Foi jornalista e político naquela cidade.

        Das filhas, Nhá LICA ( seria Eulália?), foi casada com o Major Manuel Fernandes Cardoso. Este, foi Vereador e Prefeito Municipal, além de fazendeiro ( dono do “Segredo”). Um filho, Humberto Cardoso, faleceu em deixar descendentes.

        Sinhára Barreiros, foi casada com João Paraizo,que era Escrivão de Paz na Prata, tendo deixado filhos e netos.

Amália Barreiros e seu marido Joaquim Lucas (velho dentista botucatuense já mencionado nestas crônicas ), mudaram-se de Botucatu para São Paulo, onde faleceram. Nada sei sobre sua gente.

        Amador Barreiros, o Dôca, já falecido, deixou muitos filhos. Um deles é Paulo Barreiros, conhecido artista do violão, aplaudido nos meios radiofônicos da Capital. O outro,  é Antonio Barreiros, funcionário da Câmara Municipal de Botucatu. Uma filha, Orminda, é casada com o Sr. Luiz Bruno.

  ( Correio de Botucatu – 24/01/1971 )


 
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