58 - MONSENHOR FERRARI (Continuação)
Nestas crônicas sobre a família Ferrari, um capítulo especial cabe ao Monsenhor Paschoal Ferrari, que, durante trinta e três anos e meio foi Vigário de Botucatu. Depois, no fim da vida, foi Vigário Geral da Diocese de Botucatu. Aos 03 de abril de 1853, Paschoal Ferrari, filho do SCARPELINO Luiz Ferrari, nasceu na Itália, em Corfino, província de Massa Carrara. Estudou no Seminário Menor de Castel Nuovo. Fez seus estudos teológicos superiores no Seminário Maior de Massa-Carrara, onde sacerdote se ordenou em 1879. E já em 1880 chegava ao Brasil. Veio para São Paulo, para onde se dirigia o grosso da imigração italiana. Durante algum tempo, serviu como Coadjutor da Paróquia de Sorocaba. Depois, foi Vigário de Faxina ( hoje Itapeva ) e Bom Sucesso ( atual Paranapanema ). Em 15 de maio de 1886, o padre Paschoal Ferrari assumiu a Paróquia de Botucatu, cidade onde terminou seus dias, em 21 de abril de 1922, aos 69 anos de vida. Foi Vigário da Paróquia até 28/12/1919, e depois, até sua morte, Vigário Geral da Diocese de Botucatu. Desse longo pastorado, muitos frutos resultaram. Do meu saudoso amigo, Padre Salústio Rodrigues Machado, primeiro padre ordenado em Botucatu, ouvi as melhores referências sobre Monsenhor Ferrari: “ Era um sacerdote exemplar. Trabalhador. Amigo do progresso. Aos seus esforços se deve em grande parte, a criação da Diocese de Botucatu,da qual foi Vigário Geral.” Para se avaliar a importância do cargo de Vigário Geral, basta se avaliar o tamanho da Diocese de Botucatu. Seu território era imenso. Compreendia toda a enorme área situada entre a margem esquerda do rio Tietê e o litoral. Da enorme Diocese criada em 1908, foram desmembrados os Bispados de Lins, Bauru, Sorocaba, Marília, Presidente Prudente, Assis e Itapeva. Era impossível ao grande Bispo Dom Lúcio Antunes de Souza, visitar sua imensa Diocese, hoje ARQUIDIOCESE. Por isso delegava seus poderes ao Monsenhor Ferrari, que se desincumbia, a contento, de sua delicada missão. A falta de sacerdotes sempre foi um problema para o Episcopado Nacional no passado. Os padres brasileiros eram poucos. E por isso, a Igreja se socorria de padres italianos, portugueses e espanhóis, principalmente italianos, do clero secular. E isto, sem falar nos padres e frades regulares, como capuchinhos, dominicanos, etc. . . Tenho lembrança dos seguintes padres italianos, que na época trabalhavam com Dom Lúcio: Chirinéia, em Itatinga, Cônego Trombi, em Fartura; Ronsini, em Aparecida; Julianeli, em São Pedro do Turvo; Casesse, em Apiaí; Caetano Jovino, em Porangaba; Ciardela, em Conchas; Pieroni, em Laranjal; Bartolomei, em Anhembi; Amadeu, em Angatuba; e ainda Blotta, Gióia, etc. . . Grande foi a atuação de Monsenhor Ferrari na vida botucatuense. Justiça lhe foi feita, quando deram seu nome a uma rua central de Botucatu. Trinta e três anos de sacerdócio, num só lugar, é algo de notável, constituindo um fato digno de estudos e maiores referências. O primeiro vigário de Botucatu, foi o Padre Joaquim Gonçalves Pacheco, em 1850. Pouco parou. Em seguida vieram os padres Jesuino Prestes, Modesto Teixeira, Salvador Rodrigues, Bento Ferreira, Antonio Lourenço Cardoso, Francisco Miranda, Bernardo Cardoso, Paschoal Blotta, João Lopes Rodrigues. Este foi o Vigário que antecedeu ao Padre Ferrari, em 1886. Não esquentavam lugar os reverendíssimos vigários. . . Paschoal Ferrari, Padre ou Monsenhor, era um sacerdote tolerante. Vivia muito bem com os protestantes da terra. E se dava cordialmente, com os italianos anticlericais, garibaldinos vermelhos, que festejavam ruidosamente o XX de Setembro, data que assinala a tomada da Porta Pia, em Roma, e consequentemente derrota do Papa, que em 1870, perdia o poder temporal sobre os italianos. O escritor Francisco Ferrari Marins, na saga do café, escreveu uma trilogia: Clarão na Serra, Grotão do Café Amarelo e A Porteira Bateu. Nos seus livros, o apreciado romancista, apresenta o Padre Ferrari como uma interessante figura em época, mostrando o aspecto muito humano e às vezes materiais do boníssimo Vigário, que pastoreava muito bem seu irrequieto rebanho. Interessante é de se notar, que o escritor Marins, pertence a uma família Ferrari, que não tem parentesco com a do Monsenhor Paschoal. ( Correio de Botucatu -01/04/1971 )
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