74 - OS   PINHEIRO   CALDEIRA

  

               Maria Delphina, uma das filhas do Capitão José Gomes Pinheiro, casou-se com o Tenente João Baptista da Cunha Caldeira, que foi o primeiro Coletor da cidade ( estadual ou municipal?). João Baptista da Cunha Caldeira, no fim do século passado mudou-se para Bofete, onde se tornou o patriarca, chefe da enorme família Pinheiro Caldeira. A “Caldeirada” tornou-se dona de várias propriedades agrícolas na serra do Galdino, na serra dos Órgãos e adjacências. 

               O casal Maria Delphina-Cunha Caldeira deixou os seguintes filhos: Major Benedicto, Adélia, Profa. Garibaldina, Raul, Leopoldo, Osmany, Lindolpho, Leopoldina, Honorina (Lola), Henriqueta. Todos são falecidos. E dos seus descendentes, poucos aqui residem.

               ADÉLIA foi casada com o fazendeiro Joaquim Ferreira da Silva (Ferreira Gordo), dono da Fazenda Morro Vermelho e outras propriedades agrícolas. Tenho lembrança de dois filhos do casal: Flamínio e Carlos Ferreira, que se projetaram na vida pública, no tempo do velho PRP. Flamínio, jornalista,  foi Diretor do “Correio Paulistano” e Deputado Estadual.  Carlos Ferreira foi Fazendeiro  e Tabelião em Piraju, no tempo de Ataliba Leonel, que era Senador e Chefe perrepista, membro da poderosa Comissão Diretora do velho partido.

               Profa. GARIBALDINA Pinheiro Machado, ótima educadora, foi das primeiras professoras do grupo escolar “Dr. Cardoso de Almeida”,inaugurado em 1895. O primeiro Diretor desse grupo, foi o Prof. Benedito Maria Tolosa, que deixou renome no magistério paulista. Tolosa, casado com dona Garibaldina, deixou vários filhos. Dois deles se tornaram Professores da Faculdade de Medicina de São Paulo. Benedicto Pinheiro Machado Tolosa, era Professor de Ginecologia e Obstetrícia. Adherbal Tolosa foi Catedrático de Neurologia. O casal Profa .Garibaldina e Prof.Tolosa ainda tiveram os seguintes filhos:  Helena, Dr. Anibal, Dr. Álvaro  e Dr. João Batista.

              HENRIQUETA, RAUL e LEOPOLDO CALDEIRA, sempre residiram no Bofete, onde eram fazendeiros. O  caçula da família, Osmany Pinheiro Machado Caldeira, funcionário postal, durante muitos anos foi Carteiro em Lins e Botucatu. Durantealgum tempo residiu numa pensão que mantinha, na rua Amando de Barros, ali onde está o sobradão da Casa Carvalho.

              BENEDICTO CALDEIRA, o mais velho dos irmãos, era o pai do nosso amigo  Professor Benedito Caldeira casado com a Profa. Alice Pratt Caldeira, que há pouco se aposentou no cargo de Delegado de Ensino, após mais de cinquenta anos de efetivo exercício no magistério primário. Por essa razão, o Professor Benedito Caldeira ganhou o prêmio concedido pelo Governo do Estado de São Paulo àqueles que por mais de meio século exercem funções públicas. O Professor Caldeira, dono de notável cultura geral e especializada, goza de ótimo conceito no professorado paulista.

               A respeito do Fazendeiro Ferreira Gordo, há um detalhe trágico na sua vida, que pode ser assim resumido:

               “ No fim do Império ( 1880, mais ou menos ), foi assassinado o Dr. Gonçalves da Rocha, Juiz de Direito de Botucatu. O Dr. Rocha foi morto à traição. Dentro de sua própria residência. Estava na sala de jantar, lendo um jornal, quando recebeu um tiro disparado da rua. Crime bárbaro. Perpetrado à luz do dia. No coração da cidade.Dr. Rocha residia na rua do Riachuelo ( atual Amando de Barros ), num prédio térreo em frente à Casa Carlos. O assassino, desconhecido, fugiu. Nunca foi apanhado.

               Crime misterioso. Havia um zum-zum de que era de natureza política. E havia gente grossa metida na encrenca. Mas parece que havia temor em serem apontados os mandantes. E falavam,  apontavam um, Ferreira Gordo como o mandante. A coisa chegou a tal ponto, que um dia Lúcio Ferreira Gordo foi preso como o autor intelectual do assassínio do Dr. Gonçalves Rocha, que era um dos grandes da Loja Maçônica local. Lúcio Ferreira Gordo foi preso na fazenda dos Dias, para os lados do Rio Novo de Avaré. Quem chefiou a escolta que o capturou, foi  o Delegado Amador Bueno Pinheiro de Mello, filho do Capitão Tito Correa de Mello, com quem era aparentado.

              Ferreira Gordo tinha má fama e isso pesou no seu julgamento. Diziam que era cruel senhor de escravos. E homem de maus bofes. Apesar de negar tudo quanto lhe era imputado, foi julgado e condenado. Prisão perpetua. Que foi cumprir em Fernando de Noronha, o longínquo presídio federal, para os condenados a grandes penas.

             Ferreira Gordo, algemado, como era do costume, por duas vezes voltou a Botucatu, para responder Júri, pois apelara das sentenças condenatórias. Sempre condenado. Afinal, depois de muitos anos de cárcere, foi indultado pelo Presidente da Republica. Mas pouco sobreviveu. Atacado de beribéri, velho, pobre, alquebrado, faleceu o antigo potentado, cujo processo crime está arquivado no Fórum local.

             O Dr. Gonçalves da Rocha está sepultado em Botucatu.  Solteirão,  sem familiares aqui na terra, seu túmulo foi construído pelos maçons botucatuenses, entre os quais era figura destacada”.

 

( Correio de Botucatu – 01/08/1971 )


 
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