77 -  ROCHA LIMA, O HOMEM DOS SETE MARES

  

               Corria o ano de 1864. Em Lisboa, naquele belo “jardim à beira mar plantado”, no dia 19 de julho, nascia um garoto – José da Rocha Lima – que deveria ser um homem dos sete mares. Campeão de aventuras marítimas, que viria acabar seus  dias na mui leal cidade de Sant’Anna de Botucatu. Era filho de Antonio Vitorino de Lima e de Maria Bárbara de Azevedo. Ao perder a mãe, já mocinho, não suportou a madrasta, quando do novo casamento do pai. Fugiu de casa. E engajou-se na tripulação de um navio baleeiro, que estava de partida para longínquas paragens.

               O moço lusitano cortou os mares. Percorreu o mundo. Viveu fantásticas aventuras, que contava de maneira atraente. Como era gostoso ouvi-lo descrever a pesca de uma baleia. “Quando avistavam um cetáceo, com mais de vinte metros e pesando umas duzentas toneladas, o barco se aproximava do bichão.  Desciam um bote com três homens e mais o arpoador. Este,  atirava o arpão. Atingido o alvo, ferida a baleia, o cabo de aço que prendia o arpão, começava a desenrolar dentro do bote, com uma velocidade fantástica. Fruto da disparada do animal. Quando ele parava, cansado, o bote se aproximava. E um dos homens fincava uma bandeira no dorso da baleia. Essa bandeira era o sinal para que o navio viesse e baldeasse, por meio do guindaste, a baleia para o convés. Depois, era o preparo do óleo, que, apurado, era guardado em barris. E o mais interessante, os homens baleeiros, não tinham ordenado. Recebiam a paga, em barris, que vendiam no primeiro porto, da maneira que melhor lhes conviesse.” Nessas viagens, Rocha Lima aprendeu a falar fluentemente o castelhano e o inglês,línguas usadas internacionalmente, para dar informações e receber ordens.

               Sulcando os mares, no roteiro do navio, Rocha Lima esteve na Patagônia e viu seus pingüins; apreciou as estátuas gigantescas dos “homens cachorros”, na ilha de Páscoa; rodeou as Galápagos, vencendo as ondas encapeladas do Pacifico. Esteve na Nova Zelândia, na Austrália e nas ilhas dos mares do Sul. Partindo do Peru e do Chile,fez um roteiro parecido com o de Charles Darwin em “Uma Viagem de um Naturalista ao Redor do Mundo”. E os anos corriam. E o moço amealhava conhecimentos.

                Mas tudo cansa. Saturado de ver continuamente mar e céu, resolveu ficar no Brasil. Desembarca no Rio de Janeiro. E vai procurar um tio, que ele sabia ser rico,  estabelecido com charutaria, na Avenida Rio Branco. Esperava boa acolhida, amparo e orientação, na vida que ia encetar, pois só entendia de baleias e caça de ursos. . . A recepção foi a pior possível: “Não o conheço. Nunca tive parente com tal nome. É  melhor ir andando”.

              Embora triste com o procedimento do tio, não se deu por vencido. Empregou-se como aprendiz de marceneiro, numa fábrica de móveis, próxima. Dava para comer. Aprendeu o oficio. Aperfeiçoou-se na Escola de Artes e Ofícios. E se tornou um mestre na profissão. Nesse tempo, a febre amarela grassava no Rio de Janeiro, matando gente a valer. O moço português acompanhou o enterro de muitos patrícios mais desafortunados. E isso  levou-o  a mudar de terra.

              Dirigiu-se para São Paulo. Em Santos, estabeleceu-se por conta própria. E na terra dos Andradas conheceu uma patrícia. Bonita, moça, da ilha da Madeira. Era Escolástica Deodata de Lima, com a qual se casou. E que foi sua dedicada companheira até ele falecer, em 1930, aqui em Botucatu. Dona Escolástica, que nascera em 01/01/1870, faleceu em Botucatu em 21/06/1939.

              Em Santos nasceu o primeiro filho, o Alberto. Depois a família transferiu-se para diversas outras localidades: Itapira, Pirambóia, Anhembi e Botucatu. Em Itapira nasceram os filhos Adelino e Etelvina. O rapaz foi ferroviário e mais tarde funcionário das Indústrias Matarazzo. Adelino, casado com Maria Antonieta Carneiro, filha do jornalista Avelino Carneiro, faleceu em 15/08/1966, na Capital.

              A filha Etelvina, casou-se como Dentista Isaias de Freitas, ora residentes em Avaré. O casal teve vários filhos, muito bem encaminhados na vida. Idalina Rocha Lima, outra filha, nasceu em Botucatu,em 1900, quando o velho Rocha Lima tinha uma casa de móveis na rua Amando de Barros, onde está a “A Favorecedora”,  e a marcenaria onde está a Casa Jacques. Dona Idalina, do seu casamento com o Capitão Antonio Filletti ( residem na Capital ) tem vários filhos, que estão bem situados na vida.

              O caçula da família, é Sebastião da Rocha Lima, o estimado “Lico”, casado com a professora Evan Rodrigues Alves Rocha Lima, aposentada. Residem em Botucatu, ele funcionário aposentado da Estrada de Ferro Sorocabana. Sebastião Rocha Lima, jornalista, apreciado cultor das letras, filólogo, é um dos baluartes do Centro Cultural de Botucatu, entidade que sobrevive graças aos seus esforços e aos do Dr. Arnaldo Moreira Reis e outros beneméritos da instituição. Sebastião da Rocha Lima é o tipo perfeito do autodidata. Crescido no âmbito acanhado de Pirambóia, onde era balconista no armazém do pai, em São Paulo, trabalhando e estudando, conseguiu ser o que é: um nome na cultura botucatuense.

 

( Correio de Botucatu, 19/08/1971 )


 
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