78 - ALBERTO ROCHA LIMA
Em nosso último capitulo, ao evocar a figura de José Rocha Lima, eu disse que em Santos, nascera seu primogênito, ALBERTO ROCHA LIMA, isto em 1890. Desde pequeno, o futuro advogado demonstrou inteligência viva e amor aos estudos. Na cidade praiana ele fez o curso primário. Também aprendeu línguas – Latim, Francês e Inglês. Por dificuldades financeiras, transferiu-se a família para diversas localidades paulistas. E isto, prejudicou a formação intelectual do rapaz, que foi obrigado a exercer vários misteres, a fim de colaborar na manutenção da família. Em Anhembi, por exemplo, Alberto Rocha Lima exerceu a profissão de barbeiro. Esse mesmo ofício, exerceu-o quando a família veio para Botucatu. Aqui, a boa estrela do rapaz começoua brilhar. Francisco Pinto de Gouveia e Almeida, o famoso Chico Padre, era um rábula advogado provisionado, que dominava o foro local. Chico Padre admitiu Alberto como seu auxiliar. E como tinha bonita letra (não havia máquinas de escrever ), passou a fazer todas as petições e arrazoados do famoso rábula, cuja letra era pior que a dos médicos. Alberto Rocha Lima foi progredindo no aprendizado do Direito. Mais tarde, era ele quem no júri popular defendia os réus, clientes de Chico Padre. Este causídico não tinha dotes oratórios, ao contrário do auxiliar que era bom orador. Tão notórios foram seus conhecimentos jurídicos (tornou-se advogado provisionado também), que em certa ocasião, substituiu o Promotor Público, o Dr. Alcides Ferrari. Além de Advogado, Alberto Rocha Lima, era jornalista. Colaborou assiduamente no “Correio de Botucatu”, jornal dos irmãos Almeida. Colaborava em muitas revistas e jornais do Brasil, principalmente na revista “O MALHO”, a maior e melhor do Rio de Janeiro, no principio do século. Alberto Rocha Lima, gostava das artes. Foi amador teatral. Escreveu, dirigiu e representou peças no antigo Teatro Santa Cruz ( o queimado Espéria ). Poeta inspirado, era também bom músico. Tocava bem piano, violão e flauta, mas por influência, talvez, do sangue lusitano, era melhor guitarrista. Artista plástico, com sucesso expôs seus desenhos e pinturas ( a óleo e aquarela ). Dono de grande cultura, escreveu ensaios filosóficos e livros de poesia, alguns publicados e outros inéditos. Em 1914 ou 1915, Alberto Rocha Lima deixou Botucatu. A convite do Diretor da Estrada de Ferro Sorocabana, Engenheiro José Pacheco de Góes Artigas, foi para São Paulo, exercer as funções de Secretário da Estrada de Ferro Sorocabana, cargo que exerceu por largos decênios, até sua aposentadoria. Em São Paulo, estudou na Escola de Farmácia e Odontologia da USP, formando-se em Odontologia. Pouco tempo foi dentista. Alberto Rocha Lima, casou-se em Botucatu com dona Hermínia de Góes Pacheco ( Moça Góes para os familiares ), filha do Major Góes, latifundiário, fazendeiro forte, político influente. Este Major Góes era famoso pelos seus rompantes gauchescos, pelo seu cavalo Zaino ( que tinha até A,B,C, nos fandangos da caboclada ) e pelo empenho com que enfrentava as lutas políticas. Os filhos do Major Góes – Belão, Silvino, Júlio, Paulo e Nhôzinho – todos falecidos, morreram pobres e não deixaram descendentes em Botucatu. Do casal Hermínia-Alberto, nascidos em Botucatu, estão vivos os filhos Stela ( Professora de Educação Física ) e Mário, Médico Cardiologista, ambos residentes na Capital. Alberto e dona Hermínia são falecidos, sendo que o ilustre cidadão faleceu em março do corrente ano. Na revista “Nossa Estrada”, sob o titulo “Reminiscências de um Ferroviário”, Heitor de Souza, velho ferroviário, escreveu: “Tivemos a gratíssima felicidade de encontrar em Alambari, ali instalados com armazém de secos e molhados, fazendas e armarinhos, a distintíssima família Rocha Lima. Foi para nós um consolo e uma certeza da tranqüilidade. Como que se nos abriu o céu e se nos apresentaram os anjos. José da Rocha Lima era um excelente português, de educação e cultura, coração magnânimo ao extremo, sensato, ponderado, de um falar calmo e convincente, seus conceitos, opiniões e conselhos, sempre baseados nos mais puros sentimentos de justiça e de direito. Sua mui prezada esposa, dona Escolástica, como o próprio nome indica, era de fato, uma verdadeira escola de bondade. Naquela criatura maravilhosa encontrei, por minha felicidade, uma segunda mãe. Carinhosa e solícita em toda a plenitude, era o exemplo de todas as virtudes – esposa ideal, mãe extremosa, trabalhadora incansável – lutava com toda a perseverança para a felicidade dos filhos, sem se descuidar dos que careciam de auxilio.”
( Correio de Botucatu – 25/08/1971 )
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