84 - O LUSITANO VEIGA RUSSO
No último quartel do século passado, grande era o número de portugueses em Botucatu. Negociantes, dominando o comércio botucatuense, eram Francisco Barbosa da Cunha e Melo, Antonio Ferreira da Silva Veiga Russo, Antonio Joaquim Cardoso de Almeida ( o Velho Cardoso ), Daniel Carlos Maria, Jordão da Rocha Peixoto e Quintéla, Alberto Ramalho, Manéco e Dominguinho Boava, Mariano Tacha, Manoel Gonçalves Cascudinho, Manoel Veiga, Pinto Manco, Luiz Pinho de Carvalho,Joaquim Bastos da Villa do Conde, Joaquim das Neves Pinhão, Rodrigo Cunha, Jerônimo de Carvalho ( Vice-Cônsul ) e outros. Fazendeiros eram José Joaquim Barbosa de Carvalho, João Martins da Costa, Manoel Coelho, José da Cruz, Vilela e outros. Chico Padre, Advogado, e Antonio Pinto Nunes que era meu avô ( Farmacêutico na Capela do Espírito Santo do Rio Pardo ), completavam a colônia. Desse povo todo, algumas pessoas já foram focalizadas nestas evocações. Hoje, chegou a vez do Russo, grande negociante e homem de projeção na vida local. Naquele Velho Botucatu, Antonio Ferreira da Silva Veiga Russo aparece com frequência, como figura de vulto, nos acontecimentos mais importantes da cidade. Devia ter sido um dos grandes de Botucatu, pois seu nome figura numa das ruas da cidade, lá na Boa Vista. Seu retrato está na galeria de beneméritos da Misericórdia Botucatuense. E foi sócio benfeitor da antiga Caridade Portuguesa. Antonio Ferreira da Silva Veiga Russo, nasceu em Portugal, aos 03/06/1844. Muito moço, o “pé de chumbo” veio para o Brasil, para São Paulo ( 1864 ). Localizou-se em Botucatu, cidade próspera, boca de sertão. Como o lugar progredia francamente, estabeleceu-se com casa comercial. Foi feliz. Prosperou. Tornou-se muito rico. Tido e havia como dono da maior fortuna da terra. Sua residência era naquele sobradão, onde reside José Augusto Rodrigues, na rua Cardoso de Almeida. Contavam os antigos, que a Casa Russo, sob a gerência de Francisco Braz da Cunha ( cunhado de Russo ), tinha de tudo: era armazém, loja, com banca de toucinho, vendendo no atacado e no varejo, desde anzol até fazendas finas, desde fumo até máquinas e ferramentas. Em 1880, Veiga Russo associou-se ao jovem Amando de Barros, constituindo a firma Russo & Amando, que negociou até 1884, quando houve o distrato social. A firma dissolveu-se e cada sócio passou a agir independentemente. Começou então, a carreira ascendente de Amando de Barros, que se tornou um dos maiorais do interior de São Paulo. Após a morte do seu fundador, a Casa Russo cessou suas atividades, que eram dirigidas pelo filho Alberto da Silva Veiga, o “Russinho”. Turíbio Vaz de Almeida, que foi contemporâneo de Veiga Russo, conta que o homem, apesar de assoberbado pelos trabalhos comerciais, gostava de artes e tinha atividades sociais. Morador da cidade, tinha paixão pela roça, sendo que no fim de sua vida, passava a maior parte do tempo em sua propriedade agrícola. Como todos os moços da época, fazia parte das corporações musicais. Tocava na banda musical do Luiz Arantes de Campos ou do Pedro Músico, não sei bem o certo. Na igreja Matriz, cujo coro e orquestra eram dirigidos por Manéquinho Mestre ( Manoel Theodoro de Aguiar ), tocava oficlide. Fazia parte da Diretoria dos clubes locais. Quando em 1895, o grande médico Dr. Costa Leite cogitou da fundação de um hospital ( que seria o primeiro da zona ), Veiga Russo, sogro de uma filha de Costa Leite, fez a doação de uma chácara para a localização do futuro hospital. Essa valiosa contribuição, foi complementada, depois, por Domingos Soares de Barros, constituindo o valioso imóvel lá do alto da cidade. Tenho a impressão de que Veiga Russo, apesar de sua importância econômica, nunca foi um político. Nas lutas partidárias devia apoiar seus amigos e parentes. Mas nunca disputou cargos eletivos ou executivos, como faziam os portugueses que militavam na política. Antonio Ferreira da Silva Veiga Russo, foi casado com Maria Rita Conceição, filha de Braz da Cunha, que faleceu muito moço, deixando vários filhos. Carlos, um deles, foi casado com Elvira Costa Leite, que faleceu muito moça, deixando um casal de filhos, dos quais sobrevive a Professora Maria Rita Costa Leite Veiga, residente em São Paulo. Outro, Alberto da Silva Veiga, o popular “Russinho”, já falecido, deixou vários filhos e netos, que residem em Botucatu. A filha Maria Elisa ( Lilica ),casada com José Elias de Carvalho Barros ( ambos falecidos ) deixou filhos e netos residentes em São Paulo. Elvira, foi casada com Brazilio de Alvarenga, falecidos ambos e não deixaram descendentes em Botucatu. Veiga Russo faleceu em 05/07/1904. Antes de seu casamento, o moço lusitano houvera um filho natural (1866) um rapaz inteligente, artista, que estudou em São Paulo. Foi Américo da Silva Veiga, o primeiro professor botucatuense, diplomado pela Escola Normal “Caetano de Campos”, da Capital. Américo Veiga foi meu professor no grupo escolar “Dr. Cardoso de Almeida”, nos anos de 1910 e 1911. Notável professor. Dono de bela cultura. Gostava muito de música. Fundou e dirigiu uma banda musical, composta de rapazinhos e que fez sucesso na época. Américo Veiga, solteirão, faleceu relativamente moço, em 28/07/1917. Seu nome está perpetuado no Horto Américo Veiga, da Prefeitura Municipal.
( Correio de Botucatu – 02/10/1971)
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