95 - ALEMÃES EM BOTUCATU
Quando aluna na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Botucatu, a Professora Maria Amélia N. Esteves Pinto realizou uma pesquisa sobre as influencias raciais na formação da população botucatuense. Pesquisando, desde os tempos do Velho Botucatu até o primeiro centenário de Botucatu, a Professora encontrou, mais ou menos, setenta famílias alemãs ou suíço-alemãs, formando ao lado de italianos, franceses, espanhóis, portugueses, sírios e japoneses, todos, num constante processo de impressionante miscigenação. Num absoluto, desdém pelos preconceitos raciais, tão ao gosto de Hitler e seus sequazes, esses teutônicos ou teuto-brasileiros, foram se cruzando com brancos e pretos, judeus com nacionais ou estrangeiros colaborando decisivamente para a constituição do povo brasileiro ( não raça ). Não tenho a mão o trabalho da Professora Maria Amélia, aliás minha filha. Mas isso, não impede, que de memória, possa citar aqui algumas dezenas de famílias germânicas, que viveram ou vivem em Botucatu. Eí-las:- Bauer, Bruder, Baer, Bokerman, Brumel, Diehl, Doering, Eberhardt, Eichemberger, Engler, Mercheman, Fischer, Gloor, Gross, Hirsh, Herk, Grohmann, Hankel, Heimburg, Hansem, Juricici, Eeller, Klein, Kron, Kleffens, Stein, Knuppel, Lieberman, Mayer, Murbach, Méier, Mericoffer, Muller, Petry, Plens, Ponick, Rauer, Schimid, Sauer, Sardemberg, Seuner, Hoffman, Schulihoff, Schoembeck, Sardemberg, Sclossareck, Schilliter, Ming, Troppmaier, Wagner, Witzel, Winckler, Witzler, Zuiker, Zimerman, Zumerkon, Zartz e outros. Até dois nobres, Von Gieseler e Von Atzinger, e mais o HERR Dr. Professor Knuppel, andaram por aqui nos velhos tempos. Muitos botucatuenses da atualidade descendem desse povo e são engenheiros, médicos, professores, dentistas, padres, comerciantes, industriais, lavradores, todos muito bons brasileiros. Há casos, por exemplo, em que pessoas que atendem por nomes exclusivamente brasileiros ou italianos, lá no recessivo, possuem um sobrenome alemão, como se verifica com os Pupo, Dr. Monteferrante, Spirandeli Mori, os Bacchi, e outros que tais. Conheço uns mulatinhos que tem nomes iguais aos daqueles indivíduos arianos, que Hitler, dizia pertencerem a uma raça superior, de dólico-louros. . . Dois nomes do Velho Botucatu, dois alemães de alto gabarito merecem menção especial. São eles: o Professor Constantino Knuppel e o Dr. Guilherme Von Gieseler. O primeiro, um grande educador, que, nem sei mesmo porque, veio parar nestes sertões. O segundo, um homem de larga visão, Engenheiro, dinâmico, que colaborou decisivamente para o progresso local. O Dr. Guilherme Von Gieseler, muito antes da proclamação da República, já era elemento atuante nestas paragens. Comerciante, industrial, era homem progressista. Integrou-se totalmente na sociedade local, fomentando o progresso da terra futurosa. Na rua Curuzu,montou uma fabrica de cerveja e refrigerantes. Ao lado, construiu sua bela residência, que tinha um pitoresco e bem cuidado jardim, onde a sociedade botucatuense se reunia para suas festas litero-dançante-recreativas. Em 1895, oficialmente, o primeiro clube botucatuense , A DEMOCRACIA, funcionava na residência do Dr. Von Gieseler, e o seu grande animador era o médico Dr. Costa Leite. Nos velhos tempos, dominava a valsa. No tocante às valsistas, ouvimos em nossa meninice, referencias às senhoritas Adélia, Olga e Selma Von Gieseler, como excelentes damas. A fráuleim Selma, alta, loura, elegante e bonita, era considerada a rainha da valsa. Diziam que quando ela dançava com seu par predileto, todo mundo parava para apreciá-los no rodopiar das valsas vienenses, a coqueluche da época. Dr. Von Gieseler, apesar de estrangeiro ( como era permitido no tempo ), foi Vereador várias vezes. Em 1890 com a República foram extintas as Câmaras municipais. Em seu lugar foram criados os Conselhos de Intendentes, nomeados pelo Governo do Estado. Aclamado pelo povo, o Dr. Von Gieseler e mais Alberto da Silva Pereira, Alberto de Araújo, Reverendo João Ribeiro Carvalho Braga e Brazil Gomes Pinheiro Machado, constituíram o Conselho que, em 1891 e 1892, governou Botucatu. O professor Constantino Knuppel, grande Professor na Alemanha, onde foi mestre de Bismark, o Chanceler do Reich, quando exilado no Brasil, veio ter a Botucatu. Veio pelas mãos de Domingos Soares de Barros. Aqui dirigiu o famoso Colégio Knuppel, cuja fama ultrapassava os limites do Estado. Para o ensino de humanidades, era o maior e melhor da época. Por divergências filosóficas e religiosas (Knuppel era materialista e Domingos Soares de Barros protestante convicto), o grande mestre alemão deixou a direção do Colégio. Durante seis anos foi substituído pelo seu filho João Knuppel, mas este não tinha o gabarito do pai. Por isso o Colégio fechou suas portas com grande dano para a mocidade estudiosa. Knuppel faleceu em 18/09/1895. No cemitério local há um túmulo, onde se lê: “Gratidão dos seus discípulos”. O Dr. Von Gieseler, está sepultado em Botucatu. Nenhum descendente desses dois grandes vultos reside na terra dos “bons ares e das boas escolas”.
( Correio de Botucatu – 08/12/1971)
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