99 - O CAVALHEIRO SERAFIM BLASI
Nascido no dia 27 de outubro de 1865, em San Fili ( Reggio Calábria ) na Itália, Serafim Blasi aos 13 anos de idade, já era mecânico na oficina de seu avô Giuseppe Di Chelo, fabricante de grandes relógios para torres de igreja. Revelava desde então seus pendores para a mecânica de máquinas, que o levariam a se tornar um grande industrial em terras americanas. Em março de 1881 em companhia do pai, viajou para os Estados Unidos da América do Norte, onde ia trabalhar na Estrada de Ferro Transcontinental ( Nova York – São Francisco ). Foi morar em Denver, no Estado do Colorado. Seis anos viveu na América do Norte. Durante esse tempo aprendeu a falar, fluentemente, a língua inglesa, o que lhe foi de grande valia no futuro. Em 1887 regressou à Itália para prestar o serviço militar no exército, e isto pelo prazo de 3 anos, reformando-se como sargento. Durante o tempo em que foi soldado, Serafim casou-se com Carmela Luccheta, a qual ao dar à luz uma menina, Emilia, veio a falecer. Emilia, mais tarde, no Brasil, casou-se com o artista Rafael Laurindo ( ambos falecidos ) e que veio a ser professor de trabalhos manuais da Escola Normal de Botucatu. Desse casamento nasceram vários filhos, dos quais estão vivos o Professor Arnaldo, o Contador Alberto, o Professor Oswaldo, o Médico Dr. Silvio e a Professora Amélia Laurindo. Em 1890 Serafim Blasi deixou a Europa, cruzou o Atlântico e dirigiu-se à Argentina, onde na cidade de Buenos Aires pretendia montar uma oficina mecânica. Não se deu bem na cidade portenha. Incentivado pelas notícias do progresso do Brasil, principalmente do Estado de São Paulo, em 1892 mudou-se para a Paulicéia. Dois anos lutou na pequena cidade, que dava os primeiros passos para ser a descomunal metrópole que é hoje. Em São Paulo, o moço Serafim Blasi,trabalhou como mecânico nas renomadas oficinas de Leopoldo Sidow. Este, acabou se arruinando, sem recursos financeiros até para pagar os empregados. Serafim Blasi em pagamento dos seus créditos, recebeu do arruinado patrão, algumas máquinas: um velho torno, uma máquina de furar, uma bigorna, um fole de forjas e algumas ferramentas. Assim equipado, veio parar em Botucatu. A Estrada de Ferro Sorocabana chegava até Vitória. De lá para cá, a cavalo, subiu a serra e encontrou-se com o panorama da sertaneja região. Isto, em 1893. Gostou da cidadezinha nascente. E fixou-se definitivamente em Botucatu então “boca de sertão”. Na rua Curuzu, montou sua oficina, uma tenda que começou a funcionar em 1893. O homem prosperou. Granjeou grande freguesia. Até a ponto que teve de providenciar novas instalações, mais amplas e melhor equipadas. Na Avenida Floriano Peixoto, que acabava de ser rasgada, construiu amplos barracões, onde cresceram as Indústrias Blasi, já conhecidas em toda a região e pelo Estado afora. O moço calabrês, prestativo e atencioso, relacionou-se com grandes e pequenos lavradores, boiadeiros e tropeiros, construindo e reparando toda espécie de veículos utilizados na época. A força criativa e a engenhosidade de Serafim Blasi, levaram-no a enveredar-se por um caminho ainda não explorado: fabricar máquinas e implementos para lavoura, resolvendo problemas que iam da lavoura do solo ao beneficiamento dos produtos agrícolas. Daí surgiram as afamadas MAQUINAS BLASI, de renome mundial. As máquinas de beneficiar café então, constituíram verdadeiro sucesso. É por essa razão que no Brasil todo, na Colômbia, na África Portuguesa, as MAQUINAS BLASI difundem o nome de Botucatu. As Indústrias Blasi fabricavam também, bombas hidráulicas, rodas de água, fogões,fornalhas,executava serviço de serralheria e montava serrarias com locomóveis a vapor.O homem era notável. Muitas máquinas eram de sua invenção. E para inventá-las, experimentá-las, testá-las, comprou uma fazenda em Cerqueira César, com extensos cafezais onde realizava os mais variados tipos de experiências. Ampliando suas atividades, Serafim desenvolveu ainda mais a linha de produtos, especializando-se na fabricação de maquinismos para café – lavadores para terreiros, catadores de pedras, descascadores – culminando com a sua últimainvenção que foi o famoso “Classificador de café com peneiras planas”. Serafim era um dínamo, que começou a produzir em 1894 e só descansou com a morte, falecendo repentinamente em Botucatu no dia 15 de março de 1932, deixando sua empresa aos cuidados dos seus filhos e seguidores. Em 1927 tentou instalar uma fábrica de tecidos, mas não contou com o apoio das autoridades municipais. Para impulsionar o progresso local, construiu um hotel, hoje Hotel Santo Antonio, e vários prédios de grande estrutura. Várias vezes auxiliou a Municipalidade Botucatuense com empréstimos a longo prazo. Financiou as Prefeituras de Botucatu, Penápolis e outras para a construção de redes de água e esgoto. Colaborou eficientemente para a instalação da Diocese de Botucatu, sendo um dos Conselheiros do primeiro Bispo Diocesano, Dom Lúcio. Presidiu a “Societá Italiana de Beneficenza”. Nunca foi político. Pelos relevantes serviços prestados à Colônia Italiana, em 1914 foi distinguido pelo Rei da Itália Vitório Emanuelle III, com o titulo de “CAVALHEIRO DA ORDEM DA COROA DA ITÁLIA”. O Cav. Uf. ou simplesmente O CAVALHEIRO, como era conhecido, foi o primeiro em Botucatu a receber e instalar um telefone, que recebeu o N.01. Possuindo apenas curso primário, tornou-se um homem ilustre, pelas suas leituras e pelas freqüentes viagens que fazia ao Velho Mundo. E aqui ficam os dados sobre o CAVALHEIRO, aquele que para chegar a América do Norte, em 1881, pagou sua passagem trabalhando como um dos cozinheiros do navio em que viajava.
( Correio de Botucatu – 01/01/1972 )
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